Decidi que vou dedicar-me a colocar aqui muitas coisas que tenho postadas noutros sítios e outras que tenho manuscritas. Dá um bocadinho de trabalho, mas pelo menos vomito a minha vida toda para aqui com estilo!

ODE À MINHA AVÓ



As cores do Outono.
O cheiro do Nívea nas tuas bochechas.
O sal na pele.
As gaivotas.
As canjas.
Os chás com torradas em carcacinhas da Dona Fátima.
A Mónica.
Saltar ao elástico.
As carrapetas dos eucaliptos.
Os passeios na mata.
A blusa das flores lilases.
O palácio da Pena.
Os travesseiros de Sintra.
As línguas-da-sogra.
O cheiro a livros novos.
Teclas do piano.
As intermináveis histórias.
O cobertor verde.
As festas de anos com balões.
Os joelhos esfolados.
Os chapelinhos de chocolate.
O João-Pestana.
A Fada dos Dentes.
Música por toda a casa.
A Dona Anita e o Sr. Lopes.
O Alentejo.
A professora Joaquina.
Flores frescas.
Mangueiradas no Quintal.
Os amores-perfeitos.
As subidas ao muro da garagem.
A nespereira.
A salsa e os coentros acabados de apanhar.
Franguinho no forno.
Pescadinha de rabo na boca.
As açordas.
As tuas mãos enrugadas e calejadas, mas com lindas unhas.
As saias que nunca usaste.
As tuas bandoletes.
O teu colo.
Os beijos e os xi-corações.
Os fados da Amália.
Até o teatro de revista.
A foto do meu irmão acabado de nascer.
As chineladas que não me doíam.
E aquelas que doíam!
O Lego.
A Rua Sésamo.
O canto dos pássaros.
A "Pituxa".
O ladrar dos cães à noite.
O cheiro a terra molhada.
Os bichos-de-conta.
As anedotas.
O cabelo lisinho e fofo do Rafael.
As horas de estudo, contigo.
As aguarelas.
As plasticinas.
As folhinhas-fofas.
Os piriquitos.
O Tico.
O verde, o azul…
O cor-de-rosa.
O Amor…

Por todas as noites que ficaste sem dormir, por velares sempre o meu sono e por todos os sacrifícios que fizeste para me ver feliz.
Por me teres dedicado aqueles que foram os meus primeiros e os teus últimos 14 anos de vida.
Por todo o amor que os meus pais nunca me conseguiram dar, e que tu multiplicaste vezes sem conta.
Por todas as vezes que cedeste ás minhas birras.
Pelas últimas palavras que te ouvi dizer.
Por teres estado sempre ao meu lado em vida e mesmo após a vida.
Pela tua vontade indestrutível de me veres brilhar.
Por todas as vezes que me estendeste o braço e por todas as lágrimas que secaste no meu rosto.
Por teres acreditado em mim quando não havia mais ninguém.
Pela vida feliz que me deste.
Porque o teu Amor era puro, comovente e incondicional.
Porque serás sempre a casa, o colo e o conforto.


Liliana O'Neill, Junho de 2008

1 comentários:

Incrível como no que escrevest vejo tanto da minha infância! Afinal, passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer, cerscemos juntas e fazemos um "bocadinho" parte uma da outra! *gosto mto de ti miga*

Enviar um comentário

deixar uma pegada