Só hoje tive espírito para contar a segunda parte da bendita reunião de terça-feira passada.

Lá entrámos todos para a igreja (tudo a ajoelhar-se e a fazer os gestos da praxe) e fomos sentar-nos nos bancos compridos, de frente para a imagem de Jesus.
Olhei em volta.
Já lá tinha estado aquando do baptizado da sobrinha do meu marido, que foi simples e contou apenas com a família mais chegada (não chegámos, na altura, a ocupar a totalidade de um banco), mas sinceramente não tinha reparado bem que a igreja era assim tão... pobrezinha, sabem?

Lembro-me com bastante nitidez da igreja do Algueirão, em frente à escola primária onde estudei (bons velhos tempos), que era soberba em tamanho e decoração interior (não sei se posso chamar assim), tinha imensas imagens, grandes, de santos, era abobadada, com janelas de vidro colorido soberbas e azulejos pintados datados de (penso eu) umas boas dezenas (se não centenas) de anos.

À esquerda está uma foto que encontrei na net, tirada por ocasião das "ordenações" de 2007.

fonte: paroquiasjose.no.sapo.pt

Contava com um exterior magnífico, com um jardim a rodear, cheio de árvores e muros antigos de pedra... fora a escadaria principal, onde me lembro de escorregar feliz pelo largo corrimão de pedra, com a minha melhor amiga, Mónica. Com muita pena minha, não encontrei nenhuma foto do exterior...

Eis mais uma foto da igreja do Algueirão, tirada do mesmo site:

Em comparação com a igreja da minha infância, esta parece (sem ofensa) extremamente desprovida de significado... pequena, com as paredes caiadas, brancas, mal pintadas, com uma imagem ou duas, um altar (acho que é assim que se chama, onde o padre se coloca para dar a missa) pequeno e simples e do exterior não vale a pena falar... Lá tem um arbustozito ou dois, nas traseiras, mas nada de escadarias (a frente da igreja conta com um estacionamento que mal chega para meia-dúzia de carros, e tenho impressão que, se estacionarem ali muitos, mal se vê a igreja. O melhor que podemos esperar é a vista panorâmica para o restaurante de rodízio mesmo ao lado, a par com o barulho dos veículos que passam "a abrir" mesmo ao lado. Sinceramente Famões merecia uma coisa melhor...


Igreja de Nossa Sra. do Rosário - Famões
Fonte: citytower.eu


O padre A (nosso vizinho da frente) parece ser muito querido pela comunidade, ao menos já tive a prova viva de que leva muito a sério todas as questões da igreja, participa em iniciativas de solidariedade (até apareceu num jornal local) e dedica-se muito àquilo.
Embora tenha ficado desagradavelmente surpreendida com todas as exigências que ele me apresentou para podermos baptizar o Mi, tenha rangido os dentes perante a desaprovação dele por eu não ser baptizada e mais um sem número de franzires de sobrolho da parte dele em relação ao que é requerido aos padrinhos, parece-me até boa pessoa (para padre).

Mesmo assim, acho que o que conta é mesmo a reunião das pessoas que nós gostamos para a ocasião. Claro que, já que concordei em baptizá-lo, gostaria que a igreja fosse mais bonitinha para receber os nossos convidados. Mas paciência. Peço desculpa pela sinceridade, mas pessoalmente os meus esforços estão concentrados, na sua maior parte, na festa.

Adiante.
A reunião começou então com um substituto do padre (não faço ideia da sua posição lá dentro, talvez seja ajudante ou assim) a anunciar que o Sr. padre estava de férias e por isso as coisas seriam tratadas com ele.
Mandou levantar e dizer o Pai Nosso (lembrava-me de algumas palavras, mas remeti-me ao silêncio).
Depois mandou os pais levantarem as mãos e pediu opiniões: "Porque é que decidiram baptizar o vosso filho?" e "O que é para vocês o baptismo?".
O meu maridusco não participou, e eu, como acho que são duas perguntas tão boas que ainda agora as faço a mim própria (!), também não disse nada.
Depois mandou os padrinhos levantarem as mãos, e, com a dramática pergunta "Alguém sabe como surgiram os padrinhos?" começou um sermão de uma hora, que só não se prolongou mais porque o filho daquele grupinho corria pela igreja (que faz eco) aos guinchos e a mexer em tudo, e o Mi, como se não bastasse, decidiu que ainda não havia barulho suficiente e juntou-se à festa, começando também a desestabilização por simpatia.
Depois disso o substituto ainda falou na cerimónia, como se ia passar, etc, e depois disso referiu (essa parte gostei) que alguém dos convidados teria de ler um salmo, e outro uma parte cantada.
Automaticamente pensei na Mónica (aliás, já a convidei por esta altura e ela aceitou) para a parte lida, e para o salmo cantado pensei no João (alforreca) mas ainda não lhe disse nada.

A única parte que serviu para quebrar a tensão entre os presentes (já fartos de ali estar) foi quando o substituto disse para colocarmos as dúvidas.
Um dos presentes, um senhor brasileiro que percebi que deveria ser padrinho, sai-se com esta:

- Olha, eu tenho uma dúvida. Essa parte aí de ler o evangelho, isso é na cerimónia ou na festa?

O que nós nos rimos (disfarçadamente)! Esta acabou de ganhar o óscar para a pergunta mais estúpida da noite.
Imaginei logo os meus convidados, em amena cavaqueira no restaurante, com a música da banda a tocar, e eis que alguém se levanta (neste caso, a Mónica!) manda parar a música e começa a ler o evangelho, perante o espanto geral.
Realmente há pessoas que não pensam mesmo...

Enfim, quando a parte secante terminou, entreguei dois documentos que faltavam à mulher com cara de beata (coitada, até era simpática) e fugimos dali o mais depressa possível.

Ainda bem que me livrei (por agora) da igreja.

0 comentários:

Enviar um comentário

deixar uma pegada